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Presença cresce, mas mulheres ainda são minoria dentro do automobilismo

Atualizado: 1 de jun. de 2023

As mulheres representam menos de ⅓ dos trabalhadores dentro da Fórmula 1. A primeira mulher engenheira da stock car só entrou na categoria 26 anos após seu início e primeira chefe de equipe 39 anos


 


Por Gabrielle Tiepolo da Luz | Imagem por Vitória Coimbra


As mulheres representam apenas 30% dos trabalhadores, segundo o relatório de diferenças salariais de gênero publicado pela Fórmula 1 em 2022. A categoria é a principal do ramo automobilístico mundial e conta com a segunda maior taxa de mulherestrabalhando em uma categoria de atletas masculinos. Apesar de ocuparem poucos cargos, elas recebem 11% menos que homens em cargos de menor impacto, e a diferença sobe para 20% em cargos mais altos. Esse desequilíbrio diminuiu nos últimos quatro anos, saindo de 51% , em cargos mais baixos, e 72%, em cargos mais elevados, para os números atuais.

Para tentar combater essa diferença no cenário brasileiro, a engenheira da Cavaleiro Sports da Stock Car, Erika Prado, criou o Girls Like Racing. É um projeto que visa levar garotas que sonham em trabalhar com o automobilismo para conhecer as categorias brasileiras e se familiarizar com o dia a dia do esporte a motor. “O projeto foi criado em 2018, junto de uma amiga, para levar meninas que não tinham companhia pra assistir Fórmula 1 no autódromo e conversar sobre, mas quando ela se afastou do projeto, eu comecei a compreender que eu precisava acolher toda e qualquer mulher que estivesse sozinha e quisesse falar de automobilismo”, conta a engenheira. Erika, também ressalta, que se as mulheres não ajudarem umas às outras, o futuro dentro de um esporte ainda muito predominantemente masculino será mais difícil. “Se a gente não segurar uma na mão da outra a gente não sobrevive aqui dentro”.

A engenheira da Stock Car e da Fórmula 4 conta que as mulheres sempre desejaram estar no esporte, mas apenas recentemente elas tiveram oportunidades e apoio para crescer no automobilismo. “Quando as mulheres veem outras mulheres naquele papel, elas pensam que podem e tem total capacidade de assumir esse papel também.”.


Pioneiras do esporte

Rachel Loh é engenheira da Ipiranga Racing e foi a pioneira da profissão na Stock Car em 2005. “Eu cheguei lá e eles olhavam pra mim e assumiam que eu era do marketing, não que tenha algo errado, mas, pra eles era a única função que eu podia exercer”, conta Rachel. Completa falando que poucas coisas são faladas, mas o olhar do público masculino, organizadores e colaboradores é diferente. Raquel relata que, quando começou, as pessoas pediam bonés da equipe para ela, eles se revoltavam com a negativa e ao descobrir que ela era engenheira perguntavam se uma mulher poderia ocupar essa posição.

Rachel conta que, mesmo estando no esporte há 20 anos, sente que sua meta pessoal só foi atingida quando as garotas começaram a chegar ao automobilismo. Ela completa: “As meninas perderem o medo de falar, de se expor, de aparecer, foi fundamental pro movimento ganhar força”. A engenheira, também, comenta que ser pioneira em diversas funções desde a faculdade foi muito especial e saber que hoje ela inspira outras garotas traz um sentimento de realização.

Mesmo que as mulheres fossem ocupando seu espaço no decorrer do tempo, o cargo de chefia não era considerado como uma posição feminina, por exigir pulso firme e uma personalidade mais forte, características dadas como masculinas. “Um ou outro, com uma criação mais antiga achava que ali não era meu lugar. Mas eu trabalhava como veterinária de gado, com peão, então eu já estava acostumada”, contou Babi Rodrigues, a chefe de equipe da Hot Car competições. As dificuldades são inúmeras quando se ocupa um cargo de comando, mas sendo a primeira mulher chefe de equipe, Babi conta que quando ganhou sua primeira corrida foi acusada de roubo e devolveram seu carro em pedaços após a investigação, que concluiu que o carro era legal e a vitória era válida.

Bárbara conta que sentiu esses julgamentos na pele, mas acreditava no seu potencial e isso era mais importante. “É triste ter que discordar que capacidade não tem gênero, a gente precisa mostrar isso”, complementa a ex-veterinária, que acrescenta que capacidade não tem gênero, mas, no meio automobilístico, oportunidade tem e movimentos como o Girls Like racing são importantes para gerar essas oportunidades.


Minha relação com o automobilismo


Eu não fui incentivada ao automobilismo, nunca tinha frequentado um autódromo e nem sabia o que era isso. Em 2019, uma chave virou na minha cabeça e o automobilismo virou minha vida e, durante a pandemia, eu me tornei extremamente próxima do esporte. Foi em 2021, quando eu escolhi a faculdade de Jornalismo, por causa do esporte, que eu estava disposta a tentar de tudo por ele e eu jamais imaginei que um dia eu ia estar em uma oportunidade como essa do Girls Like Racing.

Sonhos sempre existem, mas, sendo uma mulher em um esporte majoritariamente composto por homens, eu nunca achei que fosse realizar esse sonho de forma "fácil". A oportunidade de conhecer um autódromo pela primeira vez, de entrar em contato com profissionais que trilharam um caminho parecido com o que eu desejo para o meu futuro, de conhecer ídolos que eu conhecia apenas pela televisão foi mágica.

Erika, a criadora do projeto, conta que o desejo dela com o projeto é que, além de começar a trilhar um futuro dentro do automobilismo, as meninas criem ligações de amizade lá dentro e isso foi tão natural durante a experiência, talvez até fosse a realização de um sonho que eu nem sabia que existia, mas fazer amizades que, pela primeira vez, se interessavam pelo esporte a motor como eu foi sensacional. Conhecer os pilotos ficou até em segundo plano, pois a vivência de experimentar esta rotina por um dia, estar experimentando algo que pode se tornar rotina, é encantadora e instala uma ambição de que os sonhos não sejam apenas desejos, mas sim metas.

Por fim, o lema de todo o projeto é explicado já no início do evento: “Quanto mais mulheres, mais mulheres!” e a expressão representa o sentimento que é gerado durante toda a experiência, “Se a gente não segurar uma na mão da outra a gente não sobrevive até o final” comentou Erika, que, também, completou falando que há espaço para todas então essa parceria só é benéfica, quanto mais mulheres trabalharem juntas, ainda mais terão espaço dentro dos espaços que não é adepto a elas e esse é o sentimento que toda a experiência transmite.


Publicado originalmente em portal comunicare


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